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Tarcísio vira traidor para militância radical, mas é defendido por aliados de Bolsonaro

Publicado em: 08/12/2022

O governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) entrou na mira da militância bolsonarista radical ao ser fotografado sorrindo ao lado do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, considerado por eles um inimigo, e ao dizer, na mesma semana, que nunca foi um bolsonarista raiz.

Em grupos de conversa e nas redes sociais, foi chamado de oportunista e até traidor diante desses episódios, que se somam à insatisfação pelo baixo número de bolsonaristas escolhidos por ele até agora para a equipe de transição e para o futuro secretariado.

O governador eleito disse em entrevista à CNN, na segunda-feira (5), que nunca foi “bolsonarista raiz” e que não quer entrar em uma “guerra ideológica” em seu governo.

A fala ampliou o burburinho que já ocorria após um encontro com Moraes, no apartamento do magistrado, em São Paulo, na última sexta (2).

Na terça (6), Tarcísio participou da cerimônia de posse de novos ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça), na qual chegou a conversar em tom descontraído com Moraes.

Apesar das críticas da militância bolsonarista, aliados de Bolsonaro contemporizam esses gestos e destacam que será necessário jogo de cintura política ao chefe do Executivo estadual.

Líder do governo federal na Câmara dos Deputados, o deputado Ricardo Barros (PL-PR) afirma que não há novidade em Tarcísio dizer que não é um bolsonarista raiz. “Nunca foi. Foi indicado ao governo como técnico, nunca foi da militância, mas sempre foi leal. Será um importante ponto de apoio para a campanha de Bolsonaro de 2026.”

A percepção é a mesma do deputado estadual Frederico D’Ávila (PL-SP), que participa da equipe de transição de Tarcísio. “Ele nunca fez forte política partidária, exemplo disso foi optar pelo Republicanos e não pelo PL. É inegável a gratidão dele pelo presidente.”

Recém-chegado ao barco bolsonarista, o vereador de São Paulo Fernando Holiday (Republicanos) foi outro que saiu em defesa de Tarcísio. Nas redes, afirmou que as declarações não são contra Bolsonaro e que é “preciso fazer sinalizações, infelizmente”.

Tarcísio já havia incomodado a ala mais radical pelo protagonismo de Gilberto Kassab (PSD). Até o momento, o único nome do primeiro escalão com o perfil de bolsonarista raiz é o deputado federal Capitão Derrite (PL-SP).

Mesmo trazendo Derrite para a equipe, o governador eleito adiou a ideia de retirar as câmeras dos uniformes dos policiais. Fez o mesmo com a proposta de acabar com a obrigatoriedade de vacinação aos servidores —dois acenos importantes aos bolsonaristas mais radicais durante a campanha.

Tarcísio tem colocado medalhões no mandato, assim como fez o ex-governador João Doria (ex-PSDB), que pavimentou dessa forma seu terreno para concorrer à Presidência –ao fim, porém, o projeto naufragou devido à imagem desgastada do ex-governador e seu isolamento político.

Ricardo Barros não vê semelhança de estratégias e diz que é necessário Tarcísio ter parcerias com o governo federal, por isso é importante contar com Kassab. Ele também interpreta a sondagem feita por Tarcísio ao ministro da Economia, Paulo Guedes, como uma deferência a Jair Bolsonaro (PL).

“Não entendo a revolta [da militância]. Além disso, Doria levou uns cinco, seis ministeriáveis. Não é o mesmo movimento”, diz.

Outro fator que gerou certo desconforto para deputados da base do presidente, sobretudo na Assembleia Legislativa, foi o aval de Tarcísio para que o deputado André do Prado (PL) assuma a presidência da Casa em vez de um parlamentar mais ligado a Bolsonaro.

A reclamação é de que a bancada do PL não foi consultada apesar de os deputados do partido serem fiéis a Tarcísio, inclusive votando a favor do aumento do salário do futuro governador.

Na Casa, a declaração de Tarcísio sobre não ser um bolsonarista raiz também pegou mal na base mais próxima do presidente. Deputados argumentam reservadamente que seria possível declarar-se bolsonarista e manter o diálogo institucional com distintos campos políticos como governador. Para eles, Tarcísio poderia escolher nomes que fossem técnicos e que tivessem posição conservadora explícita ao mesmo tempo.

A ascendência de Kassab sobre Tarcísio, demonstrada pela escolha de nomes do PSD para o secretariado e transição, é mencionada como o ponto que mais incomoda os deputados. Os bolsonaristas cobram uma verdadeira renovação na administração estadual, o que não poderia ocorrer com as mesmas pessoas de sempre, segundo eles.

O deputado estadual Gil Diniz (PL), que é próximo de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), afirma que tem recebido queixas de colegas, mas que atua como um conciliador, pregando boa vontade com Tarcísio.

“Vamos dar tempo ao tempo, Tarcísio vai montar seu secretariado e mostrar seu trabalho. Eu entendo e respeito as escolhas dele. Sei que no fundo ele quer o melhor para o estado. Eu tento ponderar e baixar os ânimos”, disse à Folha.

Nesta quarta, alguns militantes também tentaram defendê-lo, insinuando, a partir de um recorte de vídeo, que o governador eleito evitou dar as mãos para Moraes no evento de terça. Tarcísio aparece sorridente e descontraído ao lado do magistrado.

Antes mesmo de ser eleito, Tarcísio já traçava diferenças entre ele e o presidente. Duas marcas importantes de Bolsonaro, como contestar as vacinas na pandemia e as urnas eletrônicas durante a eleição, não foram abraçadas eleitoralmente por Tarcísio, que tentou evitar esse terreno.

“Me vacinei, vacinei minha família e achava que estava fazendo a coisa certa”, disse na pré-campanha, ao se opor ao presidente.

ARTUR RODRIGUES, CAROLINA LINHARES E PAULA SOPRANA/FOLHAPRESS

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